Esta segunda-feira foi dia de luta contra o racismo para estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que passaram quase o dia todo em frente ao prédio da antiga Reitoria (na Rua Floriano Peixoto, no Centro) em uma manifestação. O ato foi motivado após a sala do Diretório Livre do Direito (DLD) da UFSM receber escritas de cunho racista nas paredes. O caso é investigado pela Polícia Federal. A mobilização foi proposta pelo DLD, mas ganhou apoio de estudantes de outros cursos.
– A nossa organização é para marcar presença, a gente não vai aceitar mais nada dessa forma. Estamos aqui para que a sociedade em geral veja o que aconteceu aqui, pontuando a situação dos negros e negras da universidade. O racismo é uma questão histórica e é preciso continuar pautando esse assunto. Na UFSM, quantos alunos são negros? Quantos negros têm acesso à universidade? E quantos evadem? – questiona Robson Daniel da Rosa, estudante de Relações Internacionais e membro do Coletivo Afronta, grupo formado por alunos negros da instituição.
Frases racistas são pichadas no diretório do Direito da UFSM
A manifestação começou de manhã e seguiu durante todo o dia. Faixas foram pintadas com frases de combate ao discurso de ódio, teve música, e, por volta do meio-dia, a rua foi trancada em manifestação.
– Não foi um episódio, o racismo é um sintoma. Essa foi mais uma manifestação de algo que existe – disse Leonarto Utzig Silva, estudante de Direito e secretário de combate às opressões do DLD.
Alunos encontram desenhos nazistas dentro de sala da UFSM
Izabella Rodrigues Gutierres, também estudante de Direito e secretária de Combate às Opressões do diretório conta que ficou sabendo de outros casos, em outras universidades, em que, primeiro, apareceu o desenho de uma suástica e, depois, manifestações racistas, assim como aconteceu na UFSM:
– Já vivenciamos outras formas de racismo que uma pessoa negra, cotista e estudante de Direito sofre todos os dias. O que aconteceu não nos surpreende, mas machuca muito. Não é a primeira vez que isso acontece. No banheiro do RU (Restaurante Universitário) do campus, tem frases assim. É importante lembrar que nossa batalha não é para sermos vítima, é para mostrar que somos fortes e para que nos respeitem.
Sociedade Israelita se manifesta sobre episódio de desenho de suástica em sala da UFSM
Um dos alunos atacados diretamente pela frase, que teve a identidade preservada, conta que se sente impotente diante do que aconteceu. Ele lembra que é o único negro de sua turma e que nunca havia sofrido preconceito dentro da sala de aula.
– Eu e a minha colega estudamos e trabalhamos muito para chegar aqui, foram muitas noites de estudo. Não pedimos favor a ninguém, não imploramos pela vaga, batalhamos como qualquer outro aluno para ingressar na universidade. Nós entramos em uma universidade, não em uma caixa de lápis de cor para falarem "você é negro, você é branco ou você é amarelo". Não cabe racismo em uma universidade – diz o acadêmico.

PROCESSO DISCIPLINAR
A assessoria de comunicação do Gabinete do Reitor afirmou que está reunindo documentos para encaminhar à Comissão Permanente de Sindicância e Inquérito Administrativo (Copsia) e que um Processo Administrativo será aberto para apurar a autoria das manifestações racistas.
PELA SEGUNDA VEZ
Essa é a segunda vez que a sala do DLD recebe manifestações de discurso de ódio. Em agosto, uma suástica (símbolo nazista) foi desenhada na parede. Na última quinta-feira, alunos encontraram a frase "Fulano e fulana*, o lugar de vocês é no tronco, fora negros, negrada fora" em uma das paredes.
* Os nomes dos alunos foram preservados
NOTAS OFICIAIS
No final de semana, o DLD publicou, em sua página de Facebook, uma nota oficial sobre o caso. O Coletivo Afronta também manifestou repúdio ao ocorrido. Confira, na íntegra, o que dizem:
Nota de Repúdio aos atos racistas na UFSM
Racismo é crime previsto em lei com pena de reclusão, uma nota de solidarização não é nada perto do que deve ser feito, a certeza da impunidade dá margem para que atos como esse se repitam. Queremos o comprometimento da reitoria da UFSM e dos outros órgãos competentes para apuração do(s) criminoso(s).